Aproveite agora

sábado, 16 de novembro de 2019

Gilmar: “Se me chamar de corrupto, toma processo." Criticado por falar e se relacionar com suspeitos fora dos autos



Criticado por falar fora dos autos, relacionar-se com acusados e não se declarar suspeito em diversos julgamentos, Gilmar Mendes torna-se a principal voz no Supremo Tribunal Federal contra os abusos da Lava Jato. Em entrevista a PODER, aproveita para atacar mídia, Ministério Público com ou sem Rodrigo Janot e o PT
por paulo vieira e fábio dutra fotos cristiano mariz

Se dependesse de boa parte da sociedade brasileira que tem como santos maiores Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e outros próceres do que se convencionou chamar de combate à corrupção, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes seria não apenas impichado, como talvez fuzilado em praça pública. Rodrigo Janot, procurador-geral da República de 2013 a 2017, tempos gordos da Lava Jato, já teve ganas de fazer ele mesmo o serviço, e armou-se para tanto, como revelou recentemente, mas recuou porque, como registrou em seu livro Nada Menos que Tudo, “no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: não”. Aos 63 anos e desde 2002 no Supremo, o juiz se tornou a voz mais estridente da corte a apontar os excessos da Lava Jato e de alas do Ministério Público. Já chamou o uso sistemático de prisões provisórias na Lava Jato como “instrumento de tortura” e disse que o Brasil “viveu uma era de trevas no que diz respeito ao processo penal”. Garantista, como se define, mas capaz de decidir pensando na circunstância, como quando no TSE não condenou, com seu voto de minerva, a chapa Dilma-Temer – “Não se substitui um presidente da República a toda hora”, afirmou –, ele costuma desagradar personagens de colorações políticas distintas por não ter pejo de emitir opiniões, dar seguidas entrevistas, não se declarar suspeito em julgamentos em que tem ligação com ao menos uma das partes, circular com implicados e ser sócio de empresas – uma das quais recebeu patrocínio da JBS. Associado ao PSDB por ter trabalhado na Advocacia-Geral da União no governo Fernando Henrique Cardoso e ser por ele indicado para o Supremo, ele já foi objeto de pedido de impeachment por deputados do PT que agora o têm na conta de “aliado”. Em 2014, disse ao jornal Folha de S.Paulo que temia que o tribunal se convertesse numa “corte bolivariana” na hipótese de que só restassem ali, além dele, juízes indicados por Lula e Dilma – a “PEC da Bengala”, que estendeu a aposentadoria compulsória dos juízes de tribunais superiores de 70 para 75 anos, aprovada no ano seguinte, eliminaria essa possibilidade. No primeiro semestre de 2019 era o recordista de pedidos de impeachment dentre os 11 ministros do STF . Com dois relógios de pulso, um Apple Watch para controlar sua rotina física e um Rolex, Mendes recebeu os repórteres da PODER em seu gabinete – que ele chama de “tenda dos milagres”, dado o número de pessoas que fazem verdadeira romaria para visitá-lo – no quinto andar de um dos anexos do STF, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Já passava das oito da noite da quarta-feira de outubro em que o Supremo começava a discutir a versão 2019 da recorrente questão da prisão em segunda instância versus trânsito em julgado. Desta vez, para dar um resposta às Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) de 2016. O dia havia começado quente. Naquela manhã ele e os colegas Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, atual presidente do STF, haviam sido recebidos por Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Visita de cortesia, segundo Mendes. A “língua ferina” do ministro, na expressão de Janot, estava presente na entrevista, mas não mais do que o usual. O ministro vem dando declarações que já não soam tão bombásticas porque talvez a audiência já tenha se acostumado a elas. A metralhadora segue apontada na direção dos promotores da Lava Jato (“gente ordinária, chinfrim, mequetrefe, se achavam soberanos”); de Moro (“personagem que o Bolsonaro leva para o jogo do Flamengo”); da República de Curitiba (“ditadura completa“), da mídia (“houve conúbio entre a Lava Jato e a mídia, a mídia os adotou”), e, claro, de Janot, mas para este nem é necessário engatilhar, já que as confissões etílico-literárias do ex-procurador são suficientemente bélicas (veja box Faroeste Caboclo). Aqui, os principais pontos da entrevista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário